terça-feira, 18 de setembro de 2012

"Eu não disse bom dia pra ele"

            Essa foi a frase que eu ouvi de um jovem rapaz que recém tinha visto o pai atirado no chão, morto.

         Estava pronta para jantar, próxima das 19 horas, quando recebi a informação de que um operário havia caído de uma obra, em Novo Hamburgo. Claro, a janta ficou pra depois.  Quando eu e o jornalista Paulo Lângaro chegamos até o endereço, rua 11 de Junho no bairro Operário, não vimos nada, apenas um prédio em construção as escuras. Mas, não demorou muito para acharmos uma fresta que dava acesso ao lado de dentro da obra, não conseguimos entrar, no entanto, vimos e  ouvimos algumas pessoas conversando. 

           Olha de um lado olha de outro e a chuva torrencial caindo nas nossas cabeças. Muitas fotos, pouca luz e qualidade. O PC (Paulo Lângaro), se enfiou embaixo de um cavalete do posto de combustíveis para clicar algo que pudesse ser publicado no NH.

De repente um menino sobe a lomba  que dava acesso ao portão principal da obra.
-Moço, meu pai tá aí? Peguntou o rapaz, todo molhado da chuva e com chinelo de dedo, camiseta e calção.
-Não pode entrar.  Respondeu um policial, meio mal educado
-Mas, é meu pai.  Insistiu o garoto, com idade aproximada de 20 anos.

   
Foto Paula Lângaro, jornal NH
             A primeira coisa que eu pensei foi: "Tomara que não seja o pai dele". Ilusão a minha. A vítima era José Luiz Vargas de Souza. O homem de 53 anos caiu do 7º andar, por volta das 18 horas do dia 18 de setembro de 2012. 
 
 
        Falei com o filho sem qualquer intensão de entrevista, queria saber se ele estava bem, ou pelo menos se precisava de algo, mas não. Ainda em choque, nem a idade do pai ele lembrava.

           Isso me fez lembrar que há 3 anos cobri a morte de 3 mulheres da mesma família em Sapiranga na ERS 239. O motorista, namorado de uma das vítimas, sobreviveu. Eu falei com o rapaz na delegacia, e nunca mais vou esquecer daquela expressão da face dele quando perguntei: "se machucou?". Conclui que fisicamente não, mas o psicológico acredito que até hoje não voltou ao normal.


Ok?!!!